Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/103

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de madrugada; em qualquer occasião propria para elevar o pensamento ás regiões onde flue a eterna fonte das consolações em cujas aguas se retemperam das dores da vida os espiritos resignados e crentes, a pobre moça tinha sempre uma oração para que Deus abrandasse a natureza de José e o tornasse, pela contricção e pela emenda, digno do perdão da sociedade. Ella não podia crer que, tendo sido esta tantas vezes indulgente para outros criminosos, fosse inexoravel para o mancebo que por algum tempo andára apartado do caminho do dever. Pobre, ingenua e credula criança!

Mal sabia que, para grande lição da sociedade do futuro, estava escripto que o comêta que assim abrazava a terra, percorreria a vastissima orbita que a Providencia lhe traçára, e se afundaria nos espaços, não entre refulgentes auroras, mas dentro de profundas e medonhas escuridões.

Uma tarde Luizinha foi buscar agua no rio Tapacurá, que banha a cidade da Victoria, então povoação de Santo-Antão, á qual pertencia Gloria-de-Goitá d’onde era natural o Cabelleira. Santo-Antão distingue-se na historia pernambucana pela circumstancia de lhe estar proximo o Monte-das-tabocas no qual se verificou em 3 de agosto de 1645 a batalha que