Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/123

Wikisource, a biblioteca livre

— Quem lhe contou isso, Anninha? perguntou o negro quasi esmagado da dor que lhe trouxe a repentina e funebre nova. Não é possivel. Ha de ser mentira. Quem havia de matar Gabriel, que nunca se importou com os outros?

— Desgraçadamente não é mentira, não. Eu soube de tudo. Foi o Cabelleira quem o matou. E o malvado ahi vem com o pai, roubando e esfaqueando a quem encontram. Previna-se, Liberato, que elles já devem estar na mata. Ai de mim! Que desgraça, meu Deus! Que será de mim sem Gabriel que era tão bom marido?!

— E onde estou eu, Anninha? Não chore. Eu ainda não creiu neste conto. Mas si succeder a desgraça que vossê diz, nem por isso deverá desesperar, que os homens ainda não se acabaram na terra.

Seguiu-se um longo pranto na casa do crioulo. Ao carpir de Anninha vieram juntar-se as lamentações de Rosalina, mulher de Liberato e irmã da viuva.

Liberato passou tres noites sem pregar olhos, pensando comsigo só. A dôr acerba a que elle, sem dar mostras, talvez por prudencia, mal tinha podido resistir com sobrehumano esforço, veiu despertar os longos resentimentos e antigos desgostos que jazíam