Saltar para o conteúdo

Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/196

Wikisource, a biblioteca livre

Mas de uma cousa tenha vossê certeza; ainda que me mate, ainda que me esfole, não passa o gadanho no meu zimbo. Poderá comer das minhas sardinhas, chupar do meu vinho, mas de dinheiro nem ceitil ha de cahir na sua unha.

Thimoteo dizia a verdade. Elle tinha todo o seu haver amoedado em lugar só delle conhecido.

Ficára só no mundo depois da morte da Chica, e enthesourava sem destino o que illicitamente adquiria. Seus unicos companheiros de casa eram um cão, e dous gatos. Estes ultimos comiam com elle á mesa, quasi no mesmo prato, e, para bem dizermos, dormiam na mesma cama.

Por isso, quando viu os mysteriosos vultos parados defronte da taberna; quando os viu mais tarde dirigir-se para esta no momento em que elle ia fechar as portas por se haver de uma vez retirado a freguezia do dia, disse Thimoteo com a maior fleugma:

— Podem entrar sem susto, que o Thimoteo é amigo.

Os desconhecidos ganharam de um pulo a tasca, e trataram de fechar as portas.

— Fazem bem, disse-lhes o vendeiro, sem se dar por achado. O tempo não está para graças. Mas si vosmecês estão aqui de emboscada