nobres feitos com que a magnificaram, alguns vultos infelizes, em quem hoje venerariamos talvez modelos de altas e varonis virtudes, si certas circumstancias de tempo e lugar, que decidem dos destinos das nações e até da humanidade, não pudessem desnaturar os homens, tornando-os açoites das gerações coévas e algozes de si mesmos. Entra neste numero o protogonista da presente narrativa, o qual se celebrizou na carreira do crime, menos por maldade natural, do que pela crassa ignorancia que em seu tempo agrilhoava os bons instinctos e deixava soltas as paixões cannibaes. Autorizam-nos a formar este juizo do Cabelleira a tradição oral, os versos dos trovadores e algumas linhas da historia que trouxeram seu nome aos nossos dias envolto em uma grande lição.
Á sua audacia e atrocidades deve seu renome este heróe legendario para o qual não achamos par nas chronicas provinciaes. Durante muitos annos, ouvindo suas mãis ou suas aias cantarem as trovas commemorativas da vida e morte desse como Cid, ou Robin-Hood pernambucano, os meninos tomados de pavor, adormeceram mais depressa, do que si lhes contassem as proezas do lobishomem ou a historia do negro do surrão muito em voga entre o povo naquelles tempos.