Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/245

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botões de ouro, o relogio e as esporas; e metti-me no mato virgem.

Luizinha mal pôde ouvir esta historia que foi rapidamente contada, com vivas e medonhas côres.

— Misericordia, Senhor! exclamou ella.

— Elle lá está, Luizinha, de pé, com o chicote na mão, olhando para mim com seus olhos mortos, á flór da cara.

A moça meditou um momento.

— Vamos; disse por fim, encaminhando-se para a sepultura; vem comigo.

— Oh! não; aquella visão me aterra. Nunca tive tanto mêdo, eu que vi immensos cadaveres banhados em sangue aos meus pés.

— O medo passará em um instante, Cabelleira.

— De que modo, Luizinha?

— Vamos. Vem rezar comigo em cima da cova ao pé da cruz.

— Rezar?

— Assim que tiveres rezado um padre-nosso e uma ave-maria em tenção do morto, sua alma desapparecerá de tua vista. Vamos, Cabelleira.

O bandido deixou-se ir a modo de arrastado pela moça que parecia, com seu vestido azul e seu lenço branco, passado em torno do pescoço, o anjo da prece na solidão.