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Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/275

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ficára no terreiro, tinha sido comida pelos magotes de gente, que vem ahi em retirada, cahindo aqui, morrendo acolá de fome, só de fome. Achei no pateo da propriedade este cavallo velho, que me vai arrastando até á casa. Sabe Deus si lá chegarei, ou si não ficarei no caminho, sem ter visto meus pobres netos ainda uma vez antes de morrer

— Está bom, meu velho; vá seguindo seu caminho. Vossê é mais necessitado do que eu.

— Não da graça de Deus, senhor, disse o velho.

O Cabelleira entrou de novo no tabocal.

O abalo que a visão lhe causára, o espectaculo de miseria que lhe descrevêra o velho, miseria muito maior do que a sua, deram-lhe forças para proseguir na peregrinação.

No dia seguinte entrava elle nas matas de Goitá, seu mundo virgem, em cujo seio, talvez pela razão de lhe consagrar entranhavel affecto, se considerava o mais seguro e feliz dos mortaes.

Deitou-se e dormiu.

Quando acordou sentiu que comsigo havia acordado, mais devoradora e cruel, a fome que o tinha prostrado por terra na vespera.

Depois de ter levado quasi todo o dia em vão á caça de algum fructo sylvestre, deu com a vista, no meio de uma aberta que fazia