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O CHOQUE
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Que jantar frio e desenxabido, aquelle ! Quando me vi fóra do castello desabafei.

— E's um animal de rabo, senhor Ayrton, e bem mereces o desprezo com que o senhor Sá te trata !

E furioso dei varios belisções nos musculos covardes que me falharam o movimento de mãos talvez mais opportuno da minha vida.

— Asno, asno, asno... fui-me repetindo pelo caminho todo. Estupido ether que não age nem interferido por uma interferencia tão clara...

A semana que se seguiu foi a mais desastrosa da minha vida. Na segunda-feira briguei com varios amigos, atirei com uma chicara de café á cara dum garçon e cheguei a ir parar na policia.

Terça-feira pela manhã bebi duas garrafas de cerveja e, contra todos os meus habitos, fui assim para o escriptorio. O senhor Sá olhou-me de esguelha por varias vezes. Por fim, notando a má vontade com que eu fazia o serviço, piou :

— Comeu cobra?

Tive impetos de mordel-o. Mas era o patrão e recolhi os dentes. Sá insistiu :

— Comeu cobra, moço ?

— Não comi cousa nenhuma. Eu lá como ? Quem ama lá come ? respondi de máo modo.

— Hum ! fez elle. Percebo agora. De ha muito venho notando que já não me é o mesmo.