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MONTEIRO LOBATO

figurão, tudo mais valia por citações em caracteres chinezes numa pagina em lingua materna. Pelas paredes, quadros - não quadros communs, com pinturas ou retratos, mas quadros de marmore, como os das usinas electricas, inçados de botõezinhos de ebonite. E reintrancias, afunilamentos que se mettiamm pelos muros como cornetas de gramophone, lampadas electricas dos mais estranhos aspectos, grupos de fios que vinham parallelos aos quatro, aos cinco, aos vinte e, de repente, se sumiam pelo muro a dentro. Todavia, o que mais me prendeu a attenção foi, ao lado da secretária do professor, um enorme globo de crystal, e sobre ella, apontado para o globo, um curioso instrumento de olhar, ou que me pareceu tal por uma vaga semelhança com o microscopio.

Eu lera em creança um romance de Julio Verne, "Vinte mil leguas submarinas", aquelle gabinete mysterioso logo me evocou varias gravuras representando os aposentos reservados do capitão Nemo. Lembrei-me tambem do professor Aronnax e senti-me na sua posição ao ver-se prisioneiro no Nautilus.

Nesse momento uma porta se abriu e o professor Benson entrou.

— Bom dia, meu caro senhor... Seu nome? Ainda não sei o seu nome.

— Ayrton Lobo, ex-empregado da firma Sá, Pato & Cia, respondi, fazendo uma reve-