Página:O cortiço.djvu/311

Wikisource, a biblioteca livre

— Como não me hei de queixar, se tudo me corre mal?!

— Sim! Pois se é para isso que aqui vens, melhor será não tornares cá!... resmungou Jerônimo, franzindo o sobrolho. Que diabo! com choradeiras nada se endireita! Tenho eu culpa de que sejas infeliz?... Também o sou e não me queixo de Deus!

Piedade abriu a soluçar.

— Aí temos! berrou o marido, erguendo-se e dando urna punhada forte sobre a mesa. E aturem-na! Por mais que um homem se não queira zangar, há de estourar por força! Ora bolas!

Senhorinha correu para junto do pai, procurando contê-lo.

— Sebo! berrou ele, desviando-a. Sempre a mesma coisa! Pois não estou disposto a aturar isto! Arre!

— Eu não vim cá por passeio!... prosseguiu Piedade entre lágrimas!. Vim cá para saber da conta do colégio!...

— Pague-a você, que tem lá o dinheiro que lhe deixei! Eu é que não tenho nenhum!

— Ah! então com que não pagas?!

— Não! Com um milhão de raios!

— É que és muito pior do que eu supunha!

— Sim, hein?! Pois então deixe-me cá com toda a minha ruindade e despache o beco! Despache-o, antes que eu faça alguma asneira!

— Minha pobre filha! Quem olhará por ela, Senhor dos Aflitos?!