Página:O cortiço.djvu/335

Wikisource, a biblioteca livre


E o demônio da crioula parecia mesmo não estar disposta a ir só com duas razões; apesar de triste e acabrunhada, mostrava-se forte e rija. Suas pernas curtas e lustrosas eram duas peças de ferro unidas pela culatra, das quais ela trazia um par de balas penduradas em saco contra o peito; as róseas lustrosas do seu cachaço lembravam grossos chouriços de sangue, e na sua carapinha compacta ainda não havia um fio branco. Aquilo, arre! tinha vida para o resto do século!

— Mas deixa estar, que eu te despacho bonito e asseado!... disse o vendeiro de si para si, voltando ao quarto para acabar de vestir-se.

Enfiava o colete quando bateram pancadas familiares na porta do corredor.

— Então?! Ainda se está em val de lençóis?...

Era a voz do Botelho.

O vendeiro foi abrir e fê-lo entrar ali mesmo para a alcova.

— Ponha-se a gosto. Como vai você?

— Assim. Não tenho passado lá essas coisas...

João Romão deu-lhe noticia da morte do Agostinho e declarou que estava com dor de cabeça. Não sabia que diabo tinha ele aquela noite, que não houve meio de pegar direito no sono.

— Calor... explicou o outro. E prosseguiu depois de uma pausa, acendendo um cigarro: pois eu vinha cá falar-lhe... Você não repare, mas...

João Romão supôs que o parasita ia pedir-lhe dinheiro e preparou-se para a defesa, queixando-se inopinadamente