Saltar para o conteúdo

Página:O cortiço.djvu/338

Wikisource, a biblioteca livre

casos dela, que me ajudasse... e ajudou-me muito, não nego! Devo-lhe isso! não! ajudar-me ajudou! mas...

— E depois?

— Depois, ela foi ficando para ai; foi ficando... e agora...

— Agora é um trambolho que lhe pode escangalhar a igrejinha! É o que é!

— Sim, que dúvida! pode ser um obstáculo sério ao meu casamento! Mas, que diabo! eu também, você compreende, não a posso pôr na rua, assim, sem mais aquelas!... Seria ingratidão, não lhe parece?...

— Ela já sabe em que pé está o negócio?...

— Deve desconfiar de alguma coisa, que não é tola!... Eu, cá por mim, não lhe toquei em nada...

— E você ainda faz vida com ela?

— Qual! há muito tempo que nem sombras disso...

— Pois, então, meu amigo, é arranjar-lhe uma quitanda em outro bairro; dar-lhe algum dinheiro e... Boa viagem! O dente que já não presta arranca-se fora!

João Romão ia responder, mas Bertoleza assomou à entrada da sala. Vinha tão transformada e tão lívida que só com a sua presença intimidou profundamente os dois. A indignação tirava-lhe faiscas dos olhos e os lábios tremiam-lhe de raiva. Logo que falou veio-lhe espuma aos cantos da boca.

— Você está muito enganado, seu João, se cuida que se casa e me atira a toa! exclamou ela. Sou negra, sim, mas tenho sentimentos! Quem me comeu a carne tem de roer-me os ossos! Então há de uma criatura ver entrar ano e sair ano,