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á pobre Hichi da lenda. . . "—

Ora, eu conhecia O-Hana; e a lenda, que por signal constitue o theme de uma notavel peça de theatro, não me era de todo estranha.

Vamos por partes. A lenda é como segue.

Não sei ha quantos seculos e nem sei em que logar, — nem importa sabel-o,— havia em certa rua dois estabelicimentos de negocios, dos que se chamam Yaoya em lingua do paiz, onde se vemdem variadas provisões,— fructos, legumes, hortaliças, ovos, peixe e muitas coisas mais.— Defrontavam um com o outro. N'um, habitam certo casal com uma filha unica, O-Hichí; n'outro, um outro casal com um só filho, Kichisa. Quiz a mofina sorte que se enamorassem um do outro.

Mofina sorte? Sim, embora, á primeira vista, não seja o caso concebivel, quando se saiba que ambos eram jovens, gentis e animados de doces enternecimentos amorosos. Eu me explico todavia. Os velhos codigos nipponicos, ainda hoje respeitados, impõem aoe filhos o preceito de herdarem o appelldo de seus paes; e filho mais velho herda a mais o encargo de chefe de familia, com a administração dos bens e a superintendencia no culto piedoso devido aos parentes fallecidos. É por este processo que as genealogias não offerecem mysterios e as familias se eternizam, conservando religiosamente o mesmo appelldo durante seculos sem conto; cessando apenas no caso excepcional de todos os descendentes acabarem, consanguineos ou não, pois é de uso corrente chamar ao lar, por adopção, filhos alheios. O filho unico pode certamente casar e a esposa recebe o appellido do marido. A filha unica pode igualmente casar, e então o esposo