Página:O demônio familiar.djvu/142

Wikisource, a biblioteca livre

EDUARDO – E fez bem. Dois amigos entendem-se melhor conversando; uma carta é um papel frio, sobre o qual se acham as palavras, mas não a voz, a fisionomia e o coração da pessoa que fala.

ALFREDO – Outra razão ainda: uma carta é uma prova material que fica, e pode estraviar-se. O que vou dizer-lhe não deve ser sabido senão pelo senhor; eu mesmo devo esquecê-lo.

EDUARDO – Vamos, fale sem o menor receio.

ALFREDO – Há um mês, Eduardo, recebi uma prova de confiança da sua parte, que me penhorou em extremo. Sabendo que eu amava sua irmã, sem exigir de mim uma promessa, apresentou-me à sua família e abriu-me o interior da sua casa.

EDUARDO – E dei um passo bem acertado, porque fiz de um simples conhecido um amigo; e tenho tido ocasiões de apreciar o seu caráter.

ALFREDO – É bondade sua. Eu amava sua irmã, era um amor sério e que só esperava uma animação da parte dela, para pedir o consentimento de sua família. Pareceu-me que era aceito; obtive autorização de seu pai, e vim um dia com a intenção de pedir-lhe a mão de D. Carlotinha. Fui talvez apressado: mas eu queria quanto antes dar-lhe uma prova de que a sua confiança não tinha sido mal correspondida.