Página:O ermitão do Muquem (1864).djvu/190

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razão, porque com minhas mãos arranquei sem piedade pela raiz todo esse teu futuro de glória e de amor com que desde a infância te embalavas. Eu te odeio, Inimá, e também com razão, porque de um só golpe vibrado nas trevas me precipitaste do fastígio do poder e da felicidade no abismo do opróbrio e da desesperação. A existência deve ser para nós ambos um odioso peso; devemos um ao outro nosso sangue: fácil e suave nos é agora pagar essa dívida sagrada. Combatamos pois aqui mesmo; porém de tal sorte, que nenhum de nós escape.

— Mas isso, Itajiba, não será talvez possível: de que modo o conseguíremos?

— Nada mais simples. Tu embeberás no teu arco a tua melhor flecha, e eu farei o mesmo; curvá-lo-ás com vigor e apontarás ao meu coração, eu farei outro tanto e apontarei ao teu; darei com o pé dois sinais; ao terceiro dispararemos a um tempo. Por este modo será impossível que ambos não sucumbamos, e eu morrerei satisfeito por ter-te arrancado a vida, e te perdoarei a morte que me dás pela vida odiosa de que me livras.

— Bem que eu quisera antes de expirar morder-te a carne e beber-te o sangue, aceito, Itajiba, aceito o combate tal qual propões.

Gonçalo propusera aquele estranho gênero de duelo, porque ansioso de pôr termo a uma existência