Página:O ermitão do Muquem (1864).djvu/205

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aqui vedes. Em uma noite de folguedo em minha própria casa esse malvado assassino...

— Basta, irmão! exclamou o ermitão, e com o peito arquejante e a fronte inundada em suor frio estendia para Mateus os braços trêmulos. Por piedade, basta! eu sei de tudo...

Depois tomando precipitadamente o rosário de ouro, que Mateus ainda tinha nas mãos, examina com atenção a medalha e olha fixamente para Maria.

— Maria! exclama ele caindo aos pés da romeira, Maria, perdoa-me!

Maria, sobressaltada com aquele grito e aquela atitude do ermitão, fita nele os olhos com pasmo, e por sua vez exclama:

— Gonçalo!...

— Milagre! milagre! murmuraram com assombro Mateus e Josefa ao ouvirem aquela primeira palavra inteligível que depois de vinte anos Maria pronunciava; mas cheios de surpresa ao reconhecerem no ermitão o assassino de Reinaldo não sabiam o que pensar daquele extraordinário acontecimento.

— Maria! continua Gonçalo sempre de joelhos aos pés da romeira; ah! tu me reconheces ainda!... Maria, perdoa-me; ninguém melhor do que tu sabe que eu não sou nenhum santo, mas um miserável pecador, para cujos enormes crimes é pouca ainda toda a misericórdia de Deus e dos homens. Dize-me