Página:O ermitão do Muquem (1864).djvu/209

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a Gonçalo que lhe contasse o que lhe tinha acontecido desde o seu desaparecimento de Vila Boa até aquela época, e que série de singulares acontecimentos o tinha levado a fundar aquela capela e a viver vida de austeridades e penitências no meio daqueles desertos.

— Mateus, lhe responde o ermitão, a história de meus desvarios e desgraças é bastante longa, e decerto não exiges de mim que a conte aqui em alguns momentos e no meio deste tumulto. Durante os dias que aqui tiverdes de demorar, vinde todas as tardes àquela choupana que ali vedes; é ali a minha morada. Posto que me seja bem doloroso rememorar um passado de crimes, misérias e fraquezas, a vós nada devo ocultar; para me tornar digno do vosso perdão é meu dever tudo confessar-vos, e também para que fiqueis conhecendo e proclameis por toda a parte quão valioso e sublime é o poder daquela piedosa Virgem, a cuja celestial proteção devo a existência neste mundo, e por cuja intercessão espero no outro a salvação eterna.

Durante todo o tempo que estiveram no Muquém, os nossos romeiros todos os dias ao declinar do sol dirigiam-se à cabana do eremita, que distava como cinqüenta passos da capela. Era um pequeno rancho coberto de palhas de bagaçu com uma porta e uma janela, mas fresco e asseado.