Foi só quando o sol, reverberando todo o seu esplendor sobre a superfície das águas, inundou de luz as pálpebras meio cerradas de Gonçalo, que este despertou de seu profundo e doloroso cismar. Só então Gonçalo, apercebendo-se de que era levado pelas águas de uma caudalosa torrente sem saber para onde, lembrou-se de tomar o remo e dirigir sua canoa... para onde?
O primeiro pensamento de Gonçalo, logo depois de sua luta com Inimá, fora deixar-se levar pelas águas abaixo, até que ele e sua canoa se despedaçassem e submergissem precipitados por alguma cachoeira. Mas a reflexão, o silêncio e a noite tendo-lhe acalmado e esclarecido o espírito, e tendo compreendido que era vontade do céu que ele vivesse, pensou seriamente no destino que devia tomar. Levado durante toda a noite pela torrente abaixo, Gonçalo não sabia em que paragens se achava. Difícil lhe seria regressar pelo rio acima, e nem quereria jamais tornar a ver os sítios fatais em que o céu o fulminara com o mais cruel dos infortúnios. Largar o rio e embrenhar-se sozinho por aquelas imensas selvas e solidões desconhecidas infestadas de Bugres e animais ferozes era também empresa por demais trabalhosa e arriscada. Portanto Gonçalo julgou mais acertado e seguro descer em sua canoa pelo álveo do rio, que lhe oferecia estrada natural e franca até chegar à