Página:O ermitão do Muquem (1864).djvu/224

Wikisource, a biblioteca livre

Então lhe aparece em sonho a Virgem Mãe de Deus tal qual se achava esculpida na medalha, porém rodeada de todo o esplendor de sua celeste glória, e diz-lhe:

— Gonçalo, grandes e inumeráveis têm sido os teus crimes; mas consola-te, que eles te serão perdoados, porque sempre em tua vida, quer na prosperidade, quer na desgraça, invocaste o meu nome e imploraste com fé viva a minha intercessão, e porque tua contrição é verdadeira, e grande tem sido a tua penitência e arrependimento. Mas em expiação de tuas culpas, e para que volte a paz à tua consciência, é mister que leves a efeito uma obra piedosa e santa, que compense largamente em benefícios à humanidade os danos e males que lhe tens causado. Ânimo, pois! não desalentes, que eu serei contigo até a tua última hora.

Meio acordado meio adormecido Gonçalo abre os olhos; mas a gloriosa visão não se desvanece e ele a vê distintamente ir pouco a pouco se afastando e desaparecer no interior de uma lapa vizinha. Gonçalo ergue-se imediatamente, corre àquele lugar, penetra na lapa, e ali encontra em um nicho de pedra bruta uma grande e bela imagem da milagrosa Virgem. A esta vista o ermitão sentiu um raio de alegria banhar-lhe o coração, e abraçado com os pés da Santa verteu lágrimas de júbilo e gratidão. Sua missão acabava