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Página:O ermitão do Muquem (1864).djvu/32

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interior da casa cantarolando e tocando castanhola nos dedos.

Esta cena não escapou ao matreiro Gonçalo, que estava na outra extremidade da sala rodeado de comparsas, estendido em um banco a todo o comprimento, tomando da assada, e vomitando chalaças e palavradas de arrepiar os cabelos. Os ouvintes o aplaudiam vivamente e com as mais gostosas e retumbantes gargalhadas.

— Bravo! o bicho está ferido, disse lá consigo Gonçalo vendo o ar sombrio e misterioso de Reinaldo, que se sentara pensativo no tamborete abandonado por Maroca, e levantando-se foi acender o cigarro na candeia que estava junto ao seu amigo.

— Que diabo tens tu hoje, meu Reinaldinho, disse ele depois de ter acendido o cigarro, que estás de cara tão fechada e trombudo como uma anta? Quem te ofendeu, amigo? Fala, que quero já desagravar-te.

— Gonçalo, nem sempre a gente está para brincadeiras. Se és deveras meu amigo, não estejas a provocar-me com esses gracejos de mau gosto; olha que há certas coisas, certos sentimentos, com que não se pode brincar sem perigo.

— Perigo! algum dia me viste recuar diante de perigo algum, meu criançola? diz antes que já te