de suas cabeças, rangiam-lhes os dentes, e nos olhos lhes fuzilava um lume torvo como as chamas do inferno. Eram como dois canguçus enciumados, que ao se encontrarem arreganham os dentes e rosnam furiosos antes de se arrojarem um sobre o outro.
O negócio já cheirava a sangue, e aquela festa, começada na paz e na alegria, estava prestes a ter o mais sanguinolento desfecho.
— Misericórdia! misericórdia! — que será isto! — Virgem Santa! — bradava-se de todos os cantos.
Uma turba de homens e mulheres em gritos lançam-se afoitamente em meio dos dois.
— Deixe, deixe esse maluco vir rasgar-me as tripas! vociferava Reinaldo como querendo voar por cima deles e a muito custo o podiam conter.
— Chega-te, rapaz, rugia Gonçalo, chega-te para cá, que quero aqui mesmo coser-te a facadas, e aliviar-te para sempre desse ciúme danado que te ferve no coração.
Por alguns momentos durou esta cena sinistra, que teria tido o mais trágico resultado, se a turba em uma gritaria imensa não se entrepusesse intrepidamente entre as duas facas, que se agitavam fuzilando por cima daquela multidão de cabeças, e já retiniam chocando-se uma na outra; até que a muito custo conseguiu-se que se não travasse a luta.