Gonçalo, consultando o relógio, que trazia preso a uma grossa cadeia de ouro, diz em voz alta:
— Três horas em ponto, meus caros; para quem mora a mais de légua de distância, já é tempo de pôr-se a caminho.
E imediatamente sem mais cumprimentos, enquanto os outros se entretinham em dançar, jogar ou conversar, abriu de manso a porta da rua, e desapareceu.
Reinaldo, que não dançava, nem bebia, nem jogava, mas acabrunhado por uma multidão de pungentes e sombrios pensamentos se assentara a um canto, viu com prazer a saída de Gonçalo. Seu peito respirou mais desafogado com o desaparecimento daquele homem fatal, que se tornava para ele um pesadelo, um espectro odioso. Levanta-se e procura com os olhos pela sala a Maroca, a fim de também convidá-la a retirar-se; por duas ou três vezes corre com a vista toda a extensão da sala, e não a vê nem na roda dos que dançavam, nem assentada em parte alguma: estremeceu, e bateu-lhe o coração de modo estranho.
Depois pensou: — Decerto está lá pelo interior da casa, e não tardará a aparecer. — Esperou alguns minutos aplicando o ouvido e embebendo os olhos pelos corredores, pelas alcovas, por todos os cantos, procurando vê-la ou ao menos ouvir-lhe a voz; mas debalde.