Página:O ermitão do Muquem (1864).djvu/69

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A vida de Gonçalo andava pois pendente de um fio.

Ele portanto, que avisado pelas próprias patrulhas que o procuravam, não ignorava estas circunstâncias, logo que se sentiu com algumas forças e em estado de poder montar a cavalo, depois de ter agradecido e remunerado generosamente os serviços do bom caboclo, desapareceu, e dirigindo-se para os sertões do norte, embrenhou-se pelas matas que demoram entre a Serra Geral e o rio Tocantins.

Sozinho naqueles ermos sem recurso, vivendo de frutos silvestres, de mel e de caça mal assada e sem adubo algum, pedindo raras vezes furtivamente agasalho em alguma pobre choupana, sofrendo trabalhos e privações, a que só sua robusta compleição podia resistir, foi-se entranhando de mais em mais pelos sertões, procurando fugir para bem longe de uma terra que se lhe tornara odiosa, e cuja lembrança lhe oprimia o coração como um pesadelo. Com as mãos manchadas no sangue de um amigo, a quem perfidamente assassinara, com a alma atassalhada de remorsos e em um sombrio desespero, vagava a esmo pelos desertos esperando morrer às garras de alguma fera ou entre as mãos dos gentios, se não sucumbisse à mortal tristeza que por dentro o corroía.

Assim vagou por muito tempo até que chegou às margens do Tocantins, onde sendo bem acolhido entre uma tribo de índios Coroados, foram-se com o tempo