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Monteiro Lobato

tragedia do Luizinho e tive impetos de insultal-o.

Contive-me e disse apenas:

— No entanto, furtou-o a uma pobre criança miseravel...

O meu Shylock abriu a mais expressiva cara de espanto que jamais topei na vida. Depois, encarou-me a fito e seus olhos lacrimejaram. Sentou-se, como anniquilado de subita dor e explicou-me, em voz entrecortada:

— Não sou casado, não tenho filhos, não tenho ninguem no mundo. Mas tive uma crença. Enjeitaram-na aqui á minha porta e recoihi-a. Criei-a.

Foi durante sete annos a minha unica alegria. O Antoninho... Um dia veio a grippe e levou-m'o para o céo. Seu ultimo brinquedo foi esse coelhinho de lã. Conservo-o aqui na minha mesa como joia preciosa, pois elle me fala do Antoninho melhor do que um livro aberto. Como quer que lh'o venda? Não ha no mundo dinheiro que para mim valha esse coelhinho...

Foi até á vitrina e recolheu o brinquedo. Pôl-o sobre a mesa, ao lado do tinteiro. E de-