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UM HOMEM HONESTO


― Excellente creatura! D'alli não vem mal ao mundo. E honesto, ah! honesto como não existe outro ― era o que todos diziam de João Pereira.

João Pereira trabalhava em repartição publica. Estivera a principio num tabellionato, e depois no commercio, como caixeiro do emporio "Ao Imperador dos Borzeguins".

O emporio deixou por discordancia com a technica commercial do imperante, que toda se resumia no lemma velhissimo: gato por lebre. E deixou o cartorio por não conseguir augmentar com extras o lucro legal do honradissimo tabellião. Atinha-se ao regimento de custas, o ingenuo, como se aquillo fôra a taboa da lei de Moysés, coisa sagrada.

Na repartição mettera-se amanuense, havia já dez annos, sem conseguir nunca mover um passo á frente. Ninguem se empenhava por elle e elle ― por honestidade, não orgulho ― era incapaz de recorrer aos expedien-