— E depois isto de comer á custa alheia deve ser um regalo! concluiu d. Fortunata, esforçada creatura que jámais papara um quitute que não fosse preparado por suas heroicas mãos.
O somno custou a vir, mas veio, e com elle sonhos. Venancio sonhou que uma nuvem de gafanhotos, vinda do sul, se abatera no sitio, deixando-o nú em pello, sem folha nas arvores, nem sóca de capim nos pastos.
Despertou sobresaltado. A manhã ia alta, com resteas de sol a coarem-se pelos vidros. Saltou da cama e foi á janella. Um vulto caminhava rumo ao pomar, de pyjama, faca de mesa na mão, assobiando despreoccupadamente o "Pé de Anjo".
— Lá vai elle, murmurou Venancio. Lá vai ás bahianas...
— Quem? indagou a esposa, interrompendo o amarrar da saia.
— Ora quem! O gafanhoto-mãi.
E como a esposa fizesse cara de não entendida, contou-lhe o sonho da nuvem.
D. Fortunata concluiu o nó da saia, apprehensiva:
— Queira Deus não dê certo!