tempos era a fé cega no padre e na sua doutrina. O sentimento religioso confundia-se com a superstição e della recebia a influencia que ainda em nossos dias alenta no lar do rico e do pobre, do pequeno e do grande crenças deleterias e habitos fatalissimos. D. Damiana, educada no seio da familia catholica, ao paladar da fé antiga—misto de sombra e luz, como a nuvem que no deserto guiava o povo de Israel—sentia-se fraca diante do sacerdote, não obstante ter-se mostrado um momento antes brava, sinão temeraria diante das forças e das armas rebeldes. É que ella estava acostumada a ver no padre o representante de Deus na terra; a considerar suas palavras como sentenças do codigo divino.
Mas o sargento-mór que já não pensava assim, ergueu o clavinote e disparou-o. A bala foi bater nos pés da cruz, e arrancar uma lasca de pedra. No mesmo instante uma fita de sangue vivo escorre do lugar onde a bala deixára profunda e alongada ferida. Viram todos o sangue descer pela pedra. Era o do padre Henrique, cujo corpo cahia traspassado aos pés do cruzeiro.
— Meu Deus, que horror! Exclamou d. Damiana. Estamos perdidos. Deus não ha de ser mais por nós.