Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/443

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correu ele à casa, meteu em se todo o ouro que tinha em segredo no cofre, e dizendo a d. Damiana que a ia recolher em lugar onde o povo não pudesse suspeitar seu homizio, encaminhou-se com ela em direitura para a Rua-do-rio.

D. Damiana não votava desafeição a Coelho. Ele tinha sido, por assim escrevermos, seu companheiro de infância, e tanto bastava para que a seus olhos o jovem europeu não aparecesse senão como um amigo, ou um irmão. É verdade que, mais tarde, distancia maior se estendera entre eles dois, filha da desigualdade de condição que naqueles tempos tanto predominava nas relações sociais e de família. Mas as tradições da primeira idade, que, como os hieróglifos dos egípcios e os caracteres cuneiformes dos persas, que tem atravessado as eras e dizem idéias tão duradouras como as pedras em que existem entalhados, não se apagam, senão com a morte, da imaginação ou, melhor, do coração onde se gravaram e donde dizem a todo tempo a sua muda e eloqüente linguagem, essas tradições extintas e sempre vivas prendiam irresistivelmente a gentil senhora-de-engenho, pelo passado, ao jovem português, como na escritura comum, o traço