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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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E depois de todo o trabalho, de despesas feitas com procuradores ou veiculos para que a petição não ficasse sepultada no mare magnum de nossas repartições, o misero africano consegue ser banido do lugar em que residiu por dez, quinze e vinte anos, em que adquiriu raizes, em que começou a preparar o seu futuro, os seus interesses!

Eis em que dera o refino, o aperfeiçoamento burocratico de governos que declaravam, sempre que podiam, da tribuna das câmaras, o seu máximo empenho em extinguir a mancha negra no Brasil. A insinceridade dessas manifestações ninguem as poderá contestar, dês que tenha lido a confissão do grande jornalista Justiniano José da Rocha, feita na sessão de 26 de junho de 1855, em pleno Parlamento, e que consta dos anais de nossa Assembléa Legislativa. Recontou-a Humberto de Campos no seu “Brasil Anedótico”, sob o titulo de “Confissão de subôrno”, extratando-a do 1.° vol. do livro de J. Nabuco, “Um estadista do Imperio”, pag. 208.

Justiniano José da Rocha narrou o seguinte episódio:

“Distribuiam-se africanos, e estava eu conversando com o ministro que os distribuia, e S. Exa. me disse: — Então, sr. Rocha, não quer algum africano?

— “Um africano me fazia conta — respondi-lhe.

— “Então, porque o não pede?

— “Si V. Exa. quer, dê-me um para mim e um para cada um dos meus colegas.

O ministro chamou imediatamente o oficial de gabinete e disse-lhe: — Lance na lista um africano para o