Quando a 24 de agosto de 1882, na católica e friorenta São Paulo, insignificante povoado que não teria, talvez, meia centena de milhares de habitantes, morria Luiz Gonzaga Pinto da Gama, a agitação abolicionista já tinha iniciado o ciclo final do movimento impetuoso, transbordante, torrencial que, com alguns anos mais, varreria a escravidão da lista dos pecados brasileiros.
Mas, porisso mesmo que o movimento ainda estava na sua fase declamatória, de preparação do ambiente, jogando-se a fundo contra os magros resultados obtidos pela aplicação da lei do ventre-livre, arrancada esta, verdadeiramente extorquida á assemblea hostil de 1871, pelas artimanhas do Visconde do Rio Branco, o saimento fúnebre daquele que fora o primeiro grande apóstolo dos negros, o vanguardeiro efetivo da acção nessa campanha arriscada, revestiu-se da imponência e da importancia de um acontecimento histórico. Nada faltou ao brilho da sagração unânime: nem a multidão que acompanhou o féretro de um homem pobre, como se fosse ao enterro de um dos maiores figurões da época; nem a presença, no séquito, da mais alta autoridade de São Paulo, que era o Conde de Tres Rios, vice-presidente da Província, em exercício; nem o comparecimento do que a cidade possuia de mais inteletual no tempo, nem a adesão dos represen-