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Página:O precursor do abolicionismo no Brasil.pdf/251

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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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— O filho da Maria Manca!”

A anedota está abrandada e posta em libré decente, porque não é assim que anda contada pela tradição oral. Ouvi-a dezenas de vezes, na sua brutalidade popular, dando as variantes das duas frases. A de Falcão Filho, terminava assim: “E quem fui encontrar lá embaixo, senhores jurados? Um negro na tribuna da defesa.”

A da que se inculca como sendo de Gama, findava de outra forma: “E quem fui encontrar lá em cima? Um homem que não conhece o pai.” E mui a muido, a frase vinha numa expressão muito mais grosseira, que o leitor, conhecido o nosso gosto pelo desbocado, facilmente imaginará.

Ora, essa anedota não é de Luiz Gama. Aconteceu com o dr. Falcão Filho e um advogado preto. Para o sr. Filinto Lopes, a quem já me referi varias vezes neste volume, o caso passou-se com o “Chanca”, um rabula de côr que vivia a imitar Gama, embora não tivesse o mesmo talento e nem a mesma educação. Para o sr. Antonio dos Santos Oliveira, que conheceu Gama na intimidade, a frase é de Clímaco Cesarino, quando ainda estudante do 3.° ano de Direito. Deste ou daquele, o que é verdade é que as testemunhas do tempo não a aceitam como da paternidade de Gama. E na variante oral, então, isso é patente. Gama, que vivia escondendo o nome do pai, que preferia figurar como filho natural a revelar a sua origem, não ia proferir uma frase tão ultrajante, que autorizaria um revide ainda mais violento e sem possibilidade de tréplica.

16 — O. ABOLICIONISMO