Fui escolhido por muitos compradores, nesta cidade, em Jundiaí e Campinas; e, por todos repelido, como se repelem cousas ruins, pelo simples fato de ser eu “baíano”.
Valeu-me a pecha!
O ultimo recusante foi o venerando e simpático ancião Francisco Egidio de Souza Aranha, pae do exmo. Conde de Tres Rios, meu respeitavel amigo.
Este, depois de haver-me escolhido, afagando-me disse:
— Has de ser um bom pagem para os meus meninos; dize-me: onde nasceste?
— Na Baía, respondi eu.
— Baíano? — exclamou admirado o excelente velho. — Nem de graça o quero. Já não foi por bom que o venderam tão pequeno”.
Repelido como “refugo”, com outro escravo da Baía, de nome José, sapateiro, voltei para a casa do sr. Cardoso, nesta cidade, á rua do Comercio n.º 2, sobrado, perto da igreja da Misericordia.
Aí aprendi a copeiro, a sapateiro, a lavar e a engomar roupa e a costurar.
Em 1847, contava eu 17 anos, quando para a casa do sr. Cardoso veiu morar, como hóspede, para estudar humanidades, tendo deixado a cidade de Campinas, onde morava, o menino Antonio Rodrigues do Prado Junior, hoje doutor em direito, ex-magistrado de elevados méritos, e residente em Mogi-Guassú, onde é fazendeiro.
Fizemos amizade íntima, de irmãos diletos, e ele começou a ensinar-me as primeiras letras.