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Página:O seminarista (1875).djvu/179

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ela hinos de louvor ao Todo-poderoso. O culto e adoração oferecidos ao Senhor por um de seus anjos não podiam deixar de ser-lhe tão gratos como aqueles que lhe são endereçados pelas mãos de seus ungidos.

Destes devaneios, em verdade bem suaves, o vinham arrancar considerações de outra ordem, que o lançavam num pego de amarguras e inquietações. Via diante de si a incerteza do futuro, o inabalável emperramento de seus pais, que a todo o transe o queriam fazer padre, a sorte precária de Margarida, mal vista e repudiada por eles, pobre e frágil criatura exposta a todos os embates de um destino cruel e a todas as seduções e azares de um mundo corrupto e libertino.

Já não era só o amor, era um dever mais santo e porventura mais forte que o amor, que o forçava a jamais abandonar ao seu destino aquela infeliz criatura, que o céu como que havia confiado à sua guarda e proteção, fazendo-a nascer junto dele, e colocando-a à sombra do mesmo lar, como a tenra trepadeira, que nasce enleada ao viçoso e copado arbusto, amparando-se com sua sombra e nutrindo-se de sua seiva. Margarida, mesmo não podendo ser sua esposa, era sua irmã; embora o não fosse pelo sangue, o destino colocando