Página:O seminarista (1875).djvu/207

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Graças a este celeste talismã, Margarida, como um lírio de alvura deslumbrante, balanceava incólume e orgulhosa o cálix imaculado no meio da torrente turva e impetuosa, que lhe rugia em derredor.

Já perto de sete anos eram volvidos, desde que se partira o querido companheiro de sua infância.

Entregue à melancolia e ao desalento, Margarida, ainda que aparentemente robusta e sadia, sofria, um mal de coração, que lhe contaminava as fontes da existência. Uma organização de vigorosa têmpera, e sobretudo uma alma paciente e resignada, davam-lhe força apenas para não sucumbir e resistir tranqüila e quase risonha ao peso esmagador do seu infortúnio.

Ao seu aspecto, ninguém à primeira vista adivinharia que um germe de morte lhe ia solapando a existência. Era como um desses pomos, que ostentam na superfície a mais fresca e viçosa cor, e que entretanto trazem no âmago já bem adiantado o germe da destruição.

Uma esperança e um dever lhe alentavam o ânimo, lhe vigoravam o corpo, e davam-lhe força e vontade para viver. Era a esperança de ver ainda um dia o seu querido Eugênio, e o dever de viver para sua pobre e desamparada mãe.