Página:O sertanejo (Volume I).djvu/121

Wikisource, a biblioteca livre
o sertanejo
117

     Nunca vi o despertar da natureza depois da hibernação. Não creio, porém, que seja mais encantador e para admirar-se do que a primavera do sertão. Aqui a transição se opera com tal energia que assemelha-se de certo modo á mutação.

     Aquela varzea que ontem ao escurecer afigurava-se aos vossos olhos o leito nú, pulverento e negro de um vasto incendio, bastou o borraceiro da noite antecedente para cobri-la esta manhã da virescencia subtil, que já veste a campina como uma gaze de esmeralda.

     Não ha em cada uma das raizes do capim secco e triturado mais do que um brôto imperceptivel ; porém rebentam os gomos com tanto luxo e abundancia que, á guisa dos tenues liços de uma teia cambiante, formam esse gaio matiz da primavera.

     Aquella arvore tambem que ainda hontem parecia um tronco morto já tem um aspecto vivaz. Pelos gravetos seccos pulula a seiva fecunda á borbulhar nos renovos para amanhã desabrochar em rama frondosa.

     Que prodigios ostenta a força creadora desta terra depois de sua longa incubação ! Della póde se dizer sem tropo que vê-se rebentar do solo