sua própria mão a grosseria de um quase fâmulo da casa.
A donzela permaneceu algum tempo imóvel no meio do aposento, completamente absorta. A pouco e pouco a figura sinistra do vaqueiro que a havia desacatado, foi-se desvanecendo, como se as lágrimas lhe delissem as tintas, e da névoa que fez-se na memória da donzela, surgiu o vulto de um menino de sete anos, vestido com um gibão de couro, que lhe servia de opa.
Êste menino era Arnaldo; e o gibão pertencia ao pai, o vaqueiro Louredo, que o deixara de usar por já estar muito velho e surrado, a ponto de andar a rir-se pelos muitos rasgões que tinha nas costas.
O menino, sôfrego por ter um vestuário de vaqueiro, enfronhara-se naquele fardão; e ficara tão cheio de si, que não se trocaria por um rei, embora dos rasgões do couro lhe saíssem as tiras de uma camisa de chita, que a mãe lhe cosera oito dias antes, e que êle já havia reduzido a trapos.
D. Flor, tornada também em sua fantasia à idade feliz da inocência, olhava com espanto para aquele pirralho, que ela via a cada instante