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NAPOLEÃO

Sobre uma ilha isolada,
Por negros mares banhada,
Vive uma sombra exilada,
De prantos lavando o chão;
E esta sombra dolorida,
No frio manto envolvida,
Repete com voz sumida:
— Eu inda sou Napoleão.

Tremem convulsas as plagas
Bravias luctam as vagas,
Solta o vento horriveis pragas
Nos sendaes da escuridão;
Mas nas torvas penedias
Entre fundas agonias,
Ella diz às ventanias:
— Eu inda sou Napoleão.

— E serei! do céo da gloria,
Nem dos bronzes da memoria,
Nem das paginas da historia
Meus feitos se apagarão;
Passe a noite e as tempestades,
Venham remotas idades,
Cáiam povos e cidades,
— Sempre serei Napoleão.