Nas horas tardias que a noite desmaia,
Que rolam na praia mil vagas azuis,
E a lua cercada de pálida chama
Nos mares derrama seu pranto de luz,
Eu vi entre os flocos de névoas imensas
Que em grutas extensas se elevam no ar,
— Um corpo de fada, — serena dormindo,
Tranqüila sorrindo num brando sonhar.
Na forma de neve — puríssima e nua —
Um raio da lua de manso batia,
Assim reclinada no túrbido leito
Seu pálido peito de amores tremia.
Oh! filha das névoas! das veigas viçosas,
Das verdes, — cheirosas roseiras do céu,
Acaso rolaste tão bela dormindo,
E dormes sorrindo, das nuvens no véu?
O orvalho das noites congela-te a fronte,
As orlas do monte se escondem nas brumas,
E queda repousas num mar de neblina,
Qual pérola fina no leito de espumas!
Nas nuas espáduas, dos astros dormentes,
— Tão frio — não sentes o pranto filtrar?
E as asas
Página:Obras completas de Fagundes Varela (1920), I.djvu/205
Aspeto