Página:Obras completas de Fagundes Varela (1920), I.djvu/221

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(A C.....)

A mulher sem amor é como o inverno,
Como a luz das antélias no deserto,
Como o espinheiro de isoladas fragas,
Como das ondas o caminho incerto.

A mulher sem amor é — Mancenilha —
Das Armas plagas sobre o chão crescida,
Basta-lhe à sombra repousar um'hora,
Que seu veneno nos corrompe a vida.

De eivado seio no profundo abismo,
Paixões repousam num sudário eterno;
Não há canto nem flor, — não há perfumes,
A mulher sem amor como o inverno.

Su'alma é um alaúde desmontado
Onde embalde o cantor procura um hino;
— Flor sem aromas, — sensitiva morta, —
— Batel nas ondas a vagar sem tino.

Mas se um raio do sol tremendo deixa
Do céu nublado a condensada treva,
A mulher amorosa é mais que um anjo,
— É um sopro de Deus que tudo eleva!