Porém no dorso do dragão das águas
Lutava o barco — mas lutava em vão,
E a pobre moça desvairada em prantos
Pedia à Virgem que lhe desse a mão!
Como ao rijo soprar das ventanias
Os mortos bóiam sobre as águas frias!
— Ouve, barqueiro, que rugido é esse
Profundo e surdo que lá em baixo soa?
Parece o ronco de um trovão medonho
Que dos abismos pelo seio ecoa! —
Oh!. 'stou perdido ! ... abandonando os remos
Clama o infeliz a delirar de medo,
Oh é a morte que nos chama, horrível,
No fundo escuro de feral rochedo!
Como ao rijo soprar das ventanias
Os mortos bóiam sobre as águas frias!
Ia o batel. Ao sorvedouro imenso
Era impossível se esquivar então,
Dentro sentado — o remador chorava,
E a donzela dizia uma oração.
Já diante deles entre véus de espuma
Treda — a voragem com furor rugia,
E uma coluna de ligeiro fumo
Do centro escuro para o céu subia.
Como ao rijo soprar das ventanias
Os mortos bóiam sobre as águas frias!
Página:Obras completas de Fagundes Varela (1920), I.djvu/229
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