Desampare a prisão onde s’encerra;
Ao som das negras ágoas do Cocito,
Ao pé dos carregados arvoredos
Cantarei o que n’alma tenho escrito.
E por entre estes horridos penedos
A quem negou Natura o claro dia,
Entre tormentos asperos e medos,
Com a trémula voz, cansada e fria,
Celebrarei o gesto claro e puro,
Que nunca perderei da phantasia.
O Musico de Thracia, ja seguro
De perder sua Eurydice, tangendo
Me ajudará ferindo o ar escuro.
As namoradas sombras, revolvendo
Memorias do passado, me ouvirão;
E com seu chôro o rio irá crescendo.
Em Salmonêo as penas faltarão,
E das filhas de Belo juntamente
De lagrimas os vasos s’encherão.
Que se amor não se perde em vida ausente,
Menos se perderá por morte escura:
Porque, emfim, a alma vive eternamente,
E amor he effeito d’alma, e sempre dura.
ELEGIA III.
O poeta Simonides fallando
Co’o Capitão Themistocles hum dia,
Em cousas de sciencia praticando;