E daquella a quem te dei.
E ja que te manifesto
Todas minhas estranhezas,
Escreve, pois que te prézas,
Milagres d'hum claro gesto,
E de quem o vio, tristezas.
Ah Senhora, em quem se apura
A fé de meu pensamento!
Escutae e estae a tento,
Que com vossa formosura
Iguala Amor meu tormento.
E, postoque tão remota
Estejais de m'escutar
Por me não remediar,
Ouvi, que pois Amor nota,
Milagres se hão de notar.
Escrevem varios Authores,
Que junto da clara fonte
Do Ganges, os moradores
Vivem do cheiro das flores
Que nascem naquelle monte.
Se os sentidos podem dar
Mantimento ao viver,
Não he logo d'espantar,
S'estes vivem de cheirar,
Que viva eu só de vos ver.
Huma árvore se conhece,
Que na geral alegria
Ella tanto s'entristece,
Que, como he noite, florece,
E perde as flores de dia. {23}
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