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Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/154

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SONETOS.


CLVIII.

Eu me aparto de vós, Nymphas do Tejo,
Quando menos temia esta partida;
E se a minha alma vai entristecida,
Nos olhos o vereis com que vos vejo.

Pequenas esperanças, mal sobejo,
Vontade que razão leva vencida,
Presto verão o fim á triste vida,
Se vos não tórno a ver como desejo.

Nunca a noite entretanto, nunca o dia,
Verão partir de mi vossa lembrança:
Amor, que vai comigo, o certifica.

Por mais que no tornar haja tardança,
Me farão sempre triste companhia
Saudades do bem que em vós me fia.



CLIX.
Vencido está de amor
Meu pensamento
O mais que póde ser,
Vencida a vida,
Sujeita a vos servir e
Instituida,
Oferecendo tudo
A vosso intento.
 
Contente deste bem
Louva o momento,
Ou hora em que se vio
Tão bem perdida;
Mil vezes desejando,
Assi ferida,
Outras mil renovar
Seu perdimento.
 
Com esta pretenção
Está segura
A causa que me guia
Nesta empreza
Tão sobrenatural,
Honrosa, e alta.
 
Jurando não querer
Outra ventura,
Votando só por vós
Rara firmeza,
Ou ser no vosso amor
Achado em falta.