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Não merece que veja o claro dia.
Não canse a phantasia
D'estar em si pintando
O gesto delicado,
Em quanto traz ao pasto o manso gado
Esse pastor, que lá só vem fallando.
Callar-me-hei somente;
Que o meu mal nem ouvir se me consente.
AGRARIO.
Formosa manhãa clara e deleitosa,
Que, como fresca rosa na verdura,
Te mostras bella e pura, marchetando
As Nymphas, espalhando teus cabellos
Nos verdes montes bellos; tu só fazes,
Quando a sombra desfazes triste e escura,
Formosa a espesura e a clara fonte,
Formoso o alto monte e o rochedo,
Formoso o arvoredo e deleitoso,
E emfim tudo formoso co'o teu rosto
D'ouro e rosas composto e claridade;
Trazes a saudade ao pensamento,
Mostrando em hum momento o roxo dia,
Com a doce harmonia nos cantares
Dos passaros a pares, que voando
Seu pasto andão buscando nos raminhos,
Para os amados ninhos que mantém.
Oh grande e summo bem da natureza!
Estranha subtileza de pintora,
Que matiza em hum'hora de mil côres
O ceo, a terra, as flores, monte e prado!
Oh tempo ja passado! quão presente{166}
Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/239
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