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Mostrando-lhes capellas de mil côres,
Ordenadas das flores que colhião:
As Nymphas lhe fugião espantadas,
As faldas levantadas, por os montes.
Via-sea água das fontes espalhar-se;
Vertumno transformar-se alli se via;
Pomona, que trazia os doces fruitos;
Alli pastores muitos, que tangião
As gaitas que trazião, e cantando
Estavão enganando as suas penas,
Tomando das Sirenas o exercicio.
Ouvia-se Salicio lamentar-se;
Da mudança queixar-se crua e fêa
Da dura Galathêa tão formosa:
E da morte invejosa Nemoroso
Ao monte cavernoso se querella,
Que a sua Elisa bella em pouco espaço
Cortou inda em agraço. Ah dura sorte!
Oh immatura morte, que a ninguem
De quantos vida tẽe jamais perdoas!
Mas tu, tempo, que voas apressado,
Hum deleitoso estado quão asinha
Nesta vida mesquinha transfiguras
Em mil desaventuras, e a lembrança
Nos deixas por herança do que levas!
Assi que se nos cevas com prazeres,
He para nos comeres no melhor.
Cada vez em peor te vás mudando:
Quanto vẽes inventando, qu'hoje approvas,
Logo á manhãa reprovas com instancia.
Oh perversa inconstancia e tão profana{168}
Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/241
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