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Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/260

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A que só por m'ouvir t'aventuravas,
Buscando horas de sesta, horas d'abrigo?
  Co'a maçãa da discordia me tiravas;
Qu'a Venus, qu'a ganhou por formosura,
Tu, como mais formosa, lha ganhavas.
  E escondendo-te logo na'spessura,
Hias fugindo, como vergonhosa
Da namorada e doce travessura.
  Não era esta a maçãa d'ouro formosa
Com qu'encoberta assi d'astucia tanta
Cydippe s'enganou por cubiçosa,
  Nem a que o curso teve d'Atalanta;
Mas era aquella, com que Galathêa
O pastor captivou, como elle canta.
  Se más tenções puzerão nodoa fêa
Em nosso firme amor, d'inveja pura,
Porque pagarei eu a culpa alhea?
  Quem desta fé, quem dest'amor não cura,
Nunca teve sujeito o coração;
Queo firme amor com a alma eterna dura.
            BELISA.
  Mal conheces, Almeno, huma affeição;
Que s'eu desse amor tenho esquecimento,
Meus olhos magoados to dirão.
  Mas teu sobejo e livre atrevimento,
E teu pouco segredo, descuidando,
Foi causa deste longo apartamento.
  Vês as Nymphas do Tejo, que mudando
Me vão ja pouco a pouco, o claro gesto
N'outra mais dura fórma traspassando.
  Hum só segredo meu te manifesto:{