ou com o mar agitado pelos ventos. Pela dicção tambem não, porque se o pensamento não he estranho, tambem esta o não póde ser, quando tão perfeitamente se lhe accommoda e ajusta, como aqui se observa; e muito mais quando as mesmas figuras e imagens de que o poeta aqui usa, andão na boca do povo de sorte, que nada he mais ordinario que ouvir dizer a um camponez que o ceo está toldado de negras nuvens etc., ou a um marinheiro ou pescador que o vento traz todo o mar em serras diante de si; que parece querer destruir a terra etc. A differença está em que onde o pastor diria coberto ou toldado, diz o poeta vestido, e onde o marinheiro diria abalado, diz o poeta nutante, para se levantar um pouco do uso commum de fallar. E portanto não ha aqui impropriedade alguma; antes summa conveniencia de pensamentos e palavras. E desta mutua conveniencia e propriedade resulta esta viveza de pintura, esta sublimidade, de que se espanta Faria. Porém sem razão se espanta, porque fóra do natural não ha sublime, e o que he natural não se estranha. Nem se persuada ninguem que se o poeta aqui se elevou, foi porque não podia domar-se; que mui de proposito o fez, por assim julgar que o devia fazer. Porque não ha poeta, que melhor soubesse variar de tom, pintar os objectos com propriedade e viveza, e seguir com a phrase o pensamento. Senão veja-se nas
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