Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/292

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Estavão para ouvir, e apparelhavão
Ao vencedor os premios semelhantes.
  As bem sonantes lyras se tocavão;
Agrario começava, e da harmonia
Os pescadores todos s'admiravão;
E dest'arte Alicuto respondia.
            AGRARIO.
  Vós semicapros deoses do alto monte,
Faunos longevos, Satyros, Sylvanos;
E vós, deosas do bosque e clara fonte,
E dos troncos que vivem largos anos;
Se tendes prompta hum pouco a sacra fronte
A nossos versos rusticos e humanos,
Ou me dae ja a capella de loureiro,
Ou penda a minha lyra d'hum pinheiro.
            ALICUTO.
  Vós humidas deidades deste pégo,
Tritões ceruleos, Próteo, com Palemo;
Vós, Nereidas do sal em que navego,
Por quem do vento as furias pouco temo;
Se ás vossas sacras aras nunca nego
O congro nadador na pá do remo,
Não consintais, que a musica marinha
Vencida seja aqui na lyra minha.
            AGRARIO.
  Pastor se fez hum tempo o moço louro,
Que do sol as carretas move e guia;
Ouvio o rio Amphriso a lyra d'ouro,
Que o seu claro inventor alli tangia.
Io foi vacca; Jupiter foi touro:
Mansas ovelhas junto d'ágoa fria{219}