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O peito de diamante hum pouco brando
De quem meu damno tanto só deseja.
Pois, por mais que de mi me andais tirando,
E por mais longa emfim que a vida seja,
Nunca em mi se verá tamanha dor,
Que Amor a não converta em mais amor.
Aqui (formosas Nymphas) vos pintei
Todo d'amores hum jardim suave;
D'ágoas, de pedras, d'árvores contei,
De flores, d'almas, feras, de huma, outra ave.
Se este amor, que no peito aposentei,
Que dos contentamentos tẽe a chave,
Por dita em tempo algum determinasse
Que de tão longos damnos vos pezasse,
Quanto mais devagar vos contaria
De minha larga historia e não alheia?
E com quanta mais ágoa regaria,
Que o rio, de contente, a branca areia?
Novo contentamento me seria
Formar de meu cuidado a nova ideia:
E vós, gostando deste estado ufano,
Zombarieis então de vosso engano.
Mas com quem fallo ja? que estou gritando,
Pois não ha nos penedos sentimento?
Ao vento estou palavras espalhando;
A quem as digo, corre mais que o vento.
A voz e a vida a dor m'está tirando,
E o tempo não me tira o pensamento.
Direi, emfim, ás duras esquivanças
Que só na morte tenho as esperanças.
Aqui, sentido, o Satyro acabou,{240}
Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/313
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