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Página:Obras completas de Luis de Camões II (1843).djvu/331

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Sem mãe, hum cervo branco e pequenino;
Trouxe-lho; ella o criou; inda hoje o préza.
  Ou ja criação seja, ou ja destino,
Tanto que não o vê, geme e suspira.
Como menos fara o triste Anzino?
  Tangia mal na frauta, mal na lira;
Despois tão bem tangia, qu'era espanto
A quem antes d'amor tanger m'ouvíra.
  Ouvia celebrar sempre em meu canto
Ulina a sua rara formosura:
(Tal nome tẽe aquella, a que amo tanto.)
  Contava-lhe meus males por figura:
Ficava eu, de medroso, frio e mudo;
Ficava ella suspensa; a historia escura.
  Assi com tal temor, com tal estudo,
Amor fui grangeando longamente,
Á conta deste amor perdendo tudo.
  Ella, dos meus desejos innocente,
O mesmo amor me tinha, tanto, digo;
Que no ser era todo differente.
  Praticava seus gostos só comigo;
Seus desgostos tambem, seus pensamentos,
Com rara graça e com saber antigo.
  Outras vezes, confusa nos intentos,
Os modos me notava, e me dizia:
Entre irmãos de que servem comprimentos?
  Eu quizera, Senhora, (respondia)
Que soubesses de mi, qu'irmão não sendo,
Não com menos amor te serviria.
  Tornou-me: Essa resposta não entendo:
O que não quiz o ceo, queres que seja?{258}
Que castellos