De não receber outro por marido:
Me respondia com sembrante honesto.
Pois sabe (respondi) que ja admittido
Me tens com gôsto teu por teu esposo;
Que com dar-te-me dou o promettido.
Não pude dizer mais, de vergonhoso,
Nem ella me deixou com ouvir tal,
Suspeitando de mi amor vicioso.
Logo me respondeo: Ah desleal!
Ah deshonesto irmão! isso pretendes?
Mas não irmão, imigo capital.
O ceo, que com injusto amor offendes,
Tome, cruel, de ti justa vingança,
Antes que de tamanho error t'emendes.
Andavas-me enganando na esperança
Com esses falsos e indevidos meios
Ao sangue nosso e minha confiança?
Fizeste verdadeiros os receios,
A que confusamente me levavas
De sombras enganosas com rodeios.
Desejo no teu peito agasalhavas
Tão torpe, tão infame, tão alheio
Do puro amor, a que obrigado estavas?
Não te desculpes, não; que ja não creio
Lagrimas, nem palavras, nem desculpas
De quem imaginou caso tão feio.
Timido respondi: De que me culpas?
Se ouvido me não dás, não tens razão;
Acaba de me ouvir o fim das culpas.
Tẽe-me, Ulina, por teu, não por irmão:
Se me não queres crer esta verdade,{
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